A inserção da cultura da paz nas escolas brasileiras foi tema
das discussões de educadores de todo o país na Conferência Nacional da
Educação Básica, em Brasília. A formação continuada dos profissionais da
educação para conviver com o ambiente de violência nas escolas e a
inserção da família no processo de ensino-aprendizagem foram apontados
como caminhos para a construção da paz no contexto escolar. O desafio,
segundo os educadores, é transformar a escola em um ambiente de
sensibilização e vivência.
A necessidade de ampliar a noção do que é cultura da paz e como ela
pode ser implementada nas escolas foi discutida sob os aspectos da
inclusão social e do debate em torno de políticas pedagógicas voltadas
para a construção do afeto entre os agentes envolvidos no processo
educacional. “Não é possível fazer pedagogia da paz sem estabelecer
laços de afeto entre as pessoas”, afirmou Luiz Henrique Buest,
especialista em desenvolvimento social, direitos humanos e cultura da
paz.
Segundo Buest, entre os elementos que possibilitam uma cultura de paz
nas escolas está o conhecimento do contexto em que cada criança está
inserida em casa, no bairro ou na cidade onde mora. “Precisamos
reconhecer que as crianças são seres humanos integrais, com coração,
consciência e emoção. Com elas, na sala de aula, está a mãe, que foi
agredida na noite anterior, ou o pai, que está embriagado, ou o tiroteio
que presenciou no bairro. É preciso trabalhar essa criança para a
convicção de que a paz é possível”, disse.
O professor Ricardo Henriques, da Universidade Federal Fluminense,
explicou que entre o ventre materno e os três anos de idade, o ser
humano desenvolve 92% de capacidade cognitiva, afetiva. No Brasil, 52%
das crianças até seis anos vivem em condições de pobreza, em um contexto
contrário à cultura da paz. “As estatísticas nos informam que, no auge
da capacidade cognitiva, essas crianças são privadas de condições
básicas e inseridas no contexto da cultura da guerra. Ou seja, da
intolerância, do preconceito, da discriminação e da ausência de
expectativas”, destacou.
Karla Nonato
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